sexta-feira, junho 25, 2010

Super Dragões - Parte 3 (última)


A imensa prevalência do azul sobre todas as outras cores nunca deixaria ninguém enganado, mas até um cego veria que ideológico tipo de café aquele é. Farrapo do sábado da semana passada, duas horas ainda para o FCP-Aves, já o SLB entrara em campo para a Taça. Diz um "E os lampiões, sabes como é que estão?". Diz curto, o outro, grosso: "Achas? Só me interessa se forem cucaralho". Não foram: o Benfica eliminou o Feirense com um golo de Cardozo. E eles continuaram a passarinhar cerveja e a ver Ronaldo dar mais um ao Manchester - é verdade, a aposta mantém-se: se marcar 20 vezes neste campeonato, Ferguson vai ter que rapar o seu sereno cabelo de sir, relembrou Ronaldo, que já marcou 17.
Ali é o Lagoa Azul, imediações do Estádio do Dragão, um cafézito de mesas metálicas, perfumado a panados, onde há sempre Super Dragões. Nas paredes pintadas de mitografia há uma, atrás do balcão, que parece que salta tem um papal Pinto da Costa, olhos pastorais apanhados, um colossal carão no meio da parede, dez palmos de altura a encarar o cliente.
A representação é muito mais do que essa força pictórica; é uma rememoração permanente de quem lhes deu 15 campeonatos em 25 anos, uma taça da UEFA, dois campeonatos da Champions. "Devemos tudo ao Pinto da Costa. Por ele mato e morro, metaforicamente falando, claro", diz de caras Fernando Madureira, memorável líder dos Super Dragões - 31 anos, feições de senador, tez bem tratada, lóbulos Swarovski -, a quem eles chamam meigamente Macaco.

Bilhetes à mão dos adeptos
Desde há duas semanas que ali, no menos que idílico Lagoa, paivantes no perímetro, se distribuem bilhetes aos Dragões da claque, dois mil por cada jogo em casa. Não é a única fonte de rendimento da claque há ainda as quotas anuais (15 euros) e a venda de merchandising e material em cerúleo celeste. A claque já teve uma dúzia de lojas; hoje sobram quatro, uma no estádio, as outras em shoppings.
São essas as receitas. Os gastos compreendem o material coreográfico que inunda núcleos e bancadas, e ainda as deslocações de autocarro, sempre gratuitas para os Super Dragões, excepto no jogos com os grandes. Mas o preço é sempre em conta para hoje, na migração a Alvalade, afectuosamente designada pelo núcleo de Ermesinde como "Deslocação à Lagartolândia" - o chefe de núcleo é o Hélder, um tipo teso de olhos bondosos, miúdo como Miccoli -, fica tudo por 30 euros.

O Porsche é cobiçado
E o Porsche do Macaco? - pergunta quem cobiça de fora. O Porsche do Macaco, uma bela berlina de prata, Boxter S, 'hard top', todos os extras, foi comprado em segunda mão. É dele, não é da claque. E os negócios privados? São isso, privados o 12, fino café frontal à Afurada, marginal portuense do Douro; e outrora dono da padaria Pão Quente, na Ribeira; e exploração em aluguer dos campos 'indoor' Gaia Soccer. Hoje já não possui este bolide mas sim um majestoso Suv da Audi Branco

"Raça. Quero ouvir raça!"
Como no "Lagoa Azul", filme de Kleiser de 80, Brooke Shields adolescente e desnuda, a história dos Super Dragões é uma história de amor natural, integral. No Dragão têm sempre dois mil lugares reservados, Porta 8, sectores 9 e 10; é evidente que vêem os jogos permanentemente postos de pé, 90 minutos de hinos - "Raça! Quero raça", grita o Macaco, mestre em MC, sempre sacrificado de costas para o campo, a puxar pelos pulmões da claque. Ali, onde cheira a erva e a relva, tudo parece funcionar em família, num ambiente patusco, ricos e pobres, Ribeira e Foz , Cinfães abraçada ao Cerco, a 3.ª Vaga e a Nortada, os valentes de Ermesinde na força da garganta. Há muitas mulheres, há crianças, fuma-se desabridamente, exalta-se os azuis; entoam-se trovas contra o SLB.
Quantos são? Eles dizem ser 2300 - registo da associação de adeptos recentemente criada pela exigência da nova lei -, esticam-se acima dos quatro mil nas épocas de glória, mas a Wikipédia assegura que são uns 10 mil. "Mas o SLB também não diz que eles são seis milhões?", pergunta a retórica Sandra, mulher de Madureira, mulher vistosa, dez unhas pontudas, camisola 'tigresse'. É ela, uma mulher de família, mãe de duas meninas, que segura o saco das contas do clube azul, aponta tudo em sebentas; o capital contado nos intervalos da bola.
Têm uma nova direcção os Super Dragões, já comunicada aos associados Madureira é o presidente; Sandra assume o conselho fiscal; Israel Bimbas preside à assembleia-geral; os vices são Filipe Pipo, Anibal Vidraças e o Hélder de Ermesinde.

Violentamente parciais
Pela teoria da rotulagem, os Super Dragões são indivíduos categorizados, basta que assim seja um e recai sobre todos eles o estigma marginais, vândalos, violentos, têm a droga da palavra grossa na ponta da língua. Insultam, roubam, são temidos, são bandidos. São estes os Super Dragões, a claque de apoio ao Futebol Clube do Porto, a maior de Portugal? Só na visão estigmatizada, naquela em que desacreditamos as suas acções para as encaixar na nossa expectativa. O que é o pior que eles têm: o pecado de serem violentamente parciais, de serem francos e frontais - e de pensarem pela própria cabeça.

SUPER QUEEENS
Rimou pela primeira vez nas Antas em 1996 a consonância usada desde então como lema das Super Queens "Faixa não há, mas nós estamos cá". Por que nasceu a facção feminina dos Super Dragões (16%, e a aumentar) de uma negação? "É a forma de nos afirmarmos; não usamos faixas porque não nos revemos nelas", aclara Xana, histórica líder do flanco que cunha a comparência pela moderação. As outras diferenças relativas aos homens de estádio - habitualmente mais vezeiros no verbo da injuriosa gesticulação - também não são de monta. "Somos um núcleo como os outros; não somos uma claque à parte", clarifica Xana, 32 anos, licenciamento em Desporto. "E temos uma só bandeira e um só estandarte". Assim mais expostas na bancada, de pé como eles, em tudo o resto as Queens clamam por igualdade. "O que nos juntou foi a necessidade de nos organizarmos. Mas aqui as mulheres são livres de ver os jogos onde quiserem". Naturalmente mais práticas, precavidas, é nas viagens que lhes ressai a diferença. "Sim, aí já não somos bem como eles: não só levamos melhores farnéis como os nossos autocarros acabam sempre por regressar mais limpos. E normalmente não andamos à porrada".

3 comentários:

  1. Muito bom mesmo este 3 artigos dos Super,vi no blog Super Porto .

    Parabéns.
    Já tinha visitado antes mas apenas os artigos recentes...não tinha visto estes...

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  2. porcos não muito obrigada

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  3. nem porcos nem dos ladrões nunca ! ANTES A MORTE.

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