domingo, junho 06, 2010

Super Dragões - Parte 1


Importa analisar a principal claque do F.C.P, perceber o que está por de trás da fundação desta, saber quem são as pessoas responsáveis, e o que realmente se passa dentro da claque. São assim tão violentos? São a escoria que dizem que são? Santos ou criminosos?
E porque não meio termo? Porque não pessoas normais que gostam de ver futebol mas de uma forma interventiva? De uma forma activa. Não conseguem ver impavidamente um jogo de futebol, apenas e só querem intervir no jogo, querem ser mais uma força contra o adversário e contra tudo aquilo que ataca o Porto.

Se calhar neles reside a mística, a raça, a garra que tanto caracteriza o F.C.P.
Recordo o vídeo de Pinto da Costa com a devida analise de Daniel Seabra, licenciado em Antropologia pela Universidade Fernando Pessoa, mestre pela Universidade do Minho, de 39 anos, é um dos maiores especialistas do país sobre a claque Super Dragões, que investiga há 16 anos.

"A claque é um campo social onde se reproduz, num contexto mais favorável, a delinquência que já é praticada no quotidiano". O antropólogo Daniel Seabra alerta para as generalizações e ajuda-nos a perceber o fenómeno Super Dragões.

A identidade dos Super Dragões está intimamente ligada à identificação com a cidade do Porto. Mas constrói-se também pela depreciação do adversário. Como funciona esta dualidade?
A exaltação do clube tem no discurso de exaltação da cidade do Porto, por oposição ao Sul, um dos seus principais elementos. O discurso de diferenciação relativamente a Lisboa não é novo no clube e nem sequer foi inaugurado por Pinto da Costa ou José Maria Pedroto. Não deixa de reproduzir um discurso identitário que encontramos já no final do séc. XIX e início do séc. XX, por exemplo, nas palavras de Basílio Teles e Raul Brandão. Esse discurso tem profundidade histórica, sendo obviamente exacerbado no futebol.

Mas a exaltação é feita também pela depreciação do adversário.
Exactamente. É feita também pela diferença, apoucando, desprestigiando e, nalguns casos, desqualificando mesmo o adversário a nível sexual, por exemplo. Há uma complementaridade: a auto-exaltação e a depreciação do adversário.

Esse discurso de identidade negativa – os cânticos insultuosos – o que significa?
Muitas vezes aquilo que pensamos que é real, é real nas suas consequências. Muitos adeptos do Porto vêm no Benfica o clube do Estado Novo que ganhava, não exactamente pelo seu mérito, mas pela protecção que gozava por parte das estruturas de poder sedeadas em Lisboa. Essa representação existe – e não estou a julgar a sua justeza ou a concordar com ela – e tem as suas consequências ao nível do discurso da claque. Esses cânticos, sobretudo os que são dirigidos ao Benfica - entendido como o principal adversário -, são evidentemente indesejáveis, reprováveis e inaceitáveis. Mantêm-se porque se inserem numa lógica de depreciação do principal adversário.

Inscrevem-se, de alguma forma, num clima de lei própria, temporária, que só existe durante o período do jogo?
Essa questão é pertinente porque o futebol decorre num espaço específico, durante um tempo específico e tem um conjunto de práticas codificadas, sendo por isso o futebol um dos grandes rituais da era moderna. Mas os insultos não são exclusivos das claques. Os insultos ao árbitro ou jogadores adversários são também usuais nos outros adeptos. A diferença é que quando um insulto é feito em coro tem outra força e o efeito de choque é maior. Apesar de chocantes e reprováveis, repare que os cânticos insultuosos nunca são maioritários. Já os contabilizei e, num jogo regular em que a claque entoa cerca de 50 a 70 cânticos, os de carácter insultuoso não passam de 5% a 10%. A grande maioria dos cânticos é de apoio à equipa. A excepção dá-se num Porto-Benfica. Neste, os cânticos insultuosos podem chegar a 30%. Mas tudo isto deve ser visto, sempre, dentro do carácter específico dos jogos.

Apesar da sobrevalorização da masculinidade dentro das claques, a presença de mulheres tem crescido. Nos SD é já de 16%. A que se deve o aumento?

Esse crescimento não pode ser desvinculado das transformações que ocorrem na sociedade e que se traduzem numa menor diferenciação entre os géneros na esfera do lazer. O próprio desempenho da claque é também motivador para as jovens mulheres. Para além de participarem no espectáculo, elas são um elemento de convívio e sociabilidade nas claques (fazem-se amigos, há namoros, há quem case). Não surpreende que as mulheres se sintam mais motivadas a participar. Fundaram mesmo um núcleo - as Super Queens.

Uma maior presença de mulheres leva à diminuição de violência ou esta leitura é abusiva?

Essa relação não é linear. No entanto, é uma leitura pertinente. Essa é uma das hipóteses do grupo de sociólogos da universidade de Leicester que estuda o Hooliganismo. A presença das mulheres é vista como elemento de pacificação nos estádios. Desconheço estudos que o demonstrem claramente. Mas a hipótese é pertinente.

Super Dragões Parte 2 - Qual é o peso real do núcleo da Ribeira?Já foram também feitas, mas ainda não provadas, associações entre os SD e a guerra de gangs da noite do Porto, será verdade?Claques “escolas de crime” ou “guarda-chuva de ilegalidades”?Tráfico de droga no interior dos SD?

Sem comentários:

Enviar um comentário